Are You Lost in the World Like Me?
durr hburr technology is bad fire is scary and thomas edison was witch
Esse curta não é antigo, pelo menos não pros padrões que eu quero trazer pra essa seção. Digo, dependendo de quem você pergunte, 2016 é praticamente a pré-história, o que me leva a pensar que devíamos jogar todos os zoomers em uma ilha não-mapeada e esperar pra ver o que acontece, a la Lord of the Flies.
E junto deles, provavelmente colocar Moby e Steve Cutts, os culpados responsáveis por essa aberração que se inspira nos curtas da Fleischer pra fazer uma crítica social tão rasa e tão imbecil que poderia ser até aplaudida por um professor universitário ou mesmo de escola.
A pior parte é que eu sinto quase um Efeito Mandela, como se eu tivesse visto isso na escola, mas em 2016 eu já estava na faculdade invocando entidades com geometria analítica. Poderia ter visto numa daquelas dezenas de blogs de variedades/humor que pipocaram na internet brasileira, mas isso foi em 2010 com o ápice em 2012, provavelmente. É lá onde se via vídeos “engraçados” e “divertidos” que estavam “bombando” no YouTube. Uso aspas porque geralmente a descrição não batia com a realidade, mas às vezes vinha um Friday ou We No Speak Americano com mãos.
E às vezes vinha alguma variação de Última Oração.
Uma parcela muito específica do meu público vai querer me bater por eu ter lembrado que isso existe.
Tá, mas sobre o que é esse curta que acabou tendo uma ressurgência memeal?
A música em si trata do eu lírico procurando outras pessoas perdidas no mundo, tal qual ele se sente perdido. No frigir dos ovos, fala pouco e acha que diz muito, mas na real só acaba vago demais, como uma música mal acabada que acha ser alta arte. Tal qual o curta que a acompanha, e é isso que talvez dê um pouco de sentido pra música.
Acompanhamos um moleque feio que aparentemente é o único habitante da cidade desligado do celular. Ignorando que isso seria absolutamente impossível mesmo em 2016, onde as crianças já nasciam sabendo usar um smartphone (mas não sabem programar um vídeo-cassete, algo que eu vou considerar vantagem pra gente), o curta nos mostra um mundo de indivíduos zumbificados pelo celular.
Pessoas caem no bueiro por não olharem por onde andam, gravam violência policial completamente apáticos, ridicularizam uma guria que dança engraçado, trocam de companheiros com um mero movimento de arrastar pro lado, etc.
E tem os exemplos clássicos que já existiam antes do smartphone ser inventado, como a família fazendo a refeição na mesma mesa, mas cada um isolado em seu celular, bem como os específicos, tipo a guria com a vida cinza e baldeada mas que no celular é feliz e colorida e perfeita.
E o exemplo ultra específico da multidão no lixão caçando Pokémon.
Lembram de quando Pokémon GO era visto como perigoso, destruidor de sensos motores, e que seria o fim da civilização como conhecemos? Bons tempos.
Claro, todos nós já ouvimos histórias de alguém que quase bateu o carro pra não perder um Pikachu ou de ladrões que usavam incensos em PokéStops pra atrair vítimas, mas aí é estupidez humana, um elemento que nenhum programador pode evitar.
O mais engraçado é que o curta se contradiz nos próprios argumentos, que não passam de gags visuais com tom de “we live in a society”.
Por exemplo, vemos em diversos momentos multidões de pessoas andando de cabeça baixa, olhos fixos em seus telefones, mas sem esbarrar em ninguém mais. Ainda assim, em um momento algum desses zumbis chuta um cachorrinho. Aí já é essência de crueldade, mas já vamos ver algo sobre os criadores e animais. Prometo que eles não são furries (até onde saibamos), mas é revelador mesmo assim.
Tá, vamos dar o benefício da dúvida e dizer que o adulto chutou o cachorro por estar no caminho dele e ele não viu. Porque não tem mais crianças e animais pisoteados é uma questão válida, mas enfim. Mas em um momento tem uma multidão gravando policiais batendo em alguém, o que mostra um ponto positivo do progresso, já que agora todo mundo tem uma câmera no celular e pode gravar quando uma situação que exija evidências em vídeo aconteça.
Porém, quando o grandalhão com camisa dos confederados (…por algum motivo…) assedia uma mulher no metrô, não tem absolutamente NINGUÉM gravando.
Não é estranho?
Aliás, essa cena começa a revelar um pouco do protagonista do clipe, e talvez (talvez) do diretor Steve Cutts e do Moby.
O pirralho é alguém FAMINTO por atenção.
Ele fantasia sobre socar o grandalhão e assim pode se tornar o herói do metrô e da mocinha e talvez desbloquear a rota Densha Otoko em sua vida, mas prefere não fazer isso porque ninguém iria se importar. Depois, vemos ele ativamente puxando as pessoas ao seu redor (completos estranhos) e pulando nas mesas e fazendo uma dancinha tentando chamar a atenção de alguém, qualquer um que seja.
Eu creio que a intenção era mostrar uma sociedade que não presta atenção no próximo, mas o efeito acaba sendo o oposto, mostra um personagem sedento por atenção a todo custo de pessoas que não importam pra ele.
Considerando que tanto Moby quanto Steve são ávidos militantes dos direito da causa animal, não me surpreende que sejam ambos attention whores. E se achar que é exagero, o Moby fez uma tatuagem de Animal Rights nos braços que virou meme. Típico.
O que explica essa cena aqui:
A escolha estilística também é absolutamente aleatória e não adiciona absolutamente nada na mensagem que nenhum dos dois queriam passar. Geralmente se usa o estilo de animação anos 30 (especialmente Disney e Fleischer) quando se quer passar a idéia de algo nostálgico ou ultrapassado.
Aqui não há um choque de estilos que poderia ressaltar essa idéia, com o moleque desenhado como um Fleischer, simbolizando que ele preservava valores antigos em um mundo de animação moderna como… sei lá, Tartakovsky, que daria a sensação visual de um personagem deslocado de seu mundo. Ou o contrário, o moleque que tinha cores vivas e animação variada em um mundo de animação limitada (que tecnicamente não é verdade em vários casos, mas eu divago).
O único choque de estilo que temos é o da Cinderela e o Príncipe isolados um do outro, cada qual em seu celular, que… também não diz nada de relevante e/ou novo pro curta.
“Kapan, porque tá escrevendo sobre um curta ruim que nem é vintage de verdade?” Porque este é meu Substack e eu faço minhas regras. Mas também porque eu lembrei que isso existe e eu achei tão imbecil e retardado que eu precisei tirar um tempo pra apontar o dedo e caçoar dele de maneira mais pública e elaborada.
Mas também porque eu descobri que, além desse curta, o diretor fez outros curtas igualmente rasos e chocantes só pra ser chocante com o mesmo tema (homem mau animais bons), e porque eu descobri que ele é o responsável por isso:
POIS É!
E pior que, revendo essa couch gag, dá pra notar que é muito melhor parada do que em movimento.
Also, tem esse curta ainda mais curto feito por um desocupado com um Nintendo DS que é uma crítica social mais válida e profunda e de uma maneira mais engajante que esse curta: