O Coelho Matador - Bunny Hugged (1951)
Pernalonga prova que wrestling não é marmelada
Eu nasci em 95, em plena Renascença Disney. Quando meus berros initelingíveis adentraram este mundo desgraçado, a Casa do Rato já tinha pretensões de ganhar um Oscar com um drama histórico sério chamado Pocahontas, enquanto preparavam um side project sem muita pretensão, um musical com leões cantando músicas escritas por Elton John.
Eu nunca me canso de contar essa história.
Porém, em 96 a Warner também estava no meio de uma Renascença, mas dos personagens que nunca foram 100% da Warner, o que é algo que sempre vai me soar estranho. A gente sempre foi condicionado a comparar Mickey e Pernalonga como os respectivos mascotes e representantes da Disney e Warner, mas os Looney Tunes eram propriedade do estúdio de Leon SCHILEGHINBER, e a Warner só distribuía, até em um certo momento, comprar o estúdio, acervo e personagens. Tecnicamente, seria como a Disney ter a Luxo Jr. como mascote no lugar do Mickey.
Mas eu divago.
Enfim, aproveitando o sucesso de Space Jam e reprises intermináveis dos curtas clássicos a ponto de zoar a percepção de uma geração inteira sobre animação dos anos 50 pra trás (algum dia eu vou escrever sobre isso, me cobrem), a Warner/Turner/Discovery/Tio Patinhas/AT-AT ou seja lá quem era dono da Warner naquela época, aproveitaram pra lançar uma pancada de quinquilharia com o rosto de Pernalonga, Patolino e personagens adjascentes.
O que nos deu coisas maravilhosamente datadas como a linha de roupas hip hop.
Se bem que eram os anos 90, e todo estúdio de mídia com personagens icônicos na época tentou fazer alguma coisa parecida. Talvez não tenha chegado apropriadamente aqui, mas pra promover a série TURMADUPATETA a Disney lançou um clipe musical chamado Gotta be Getting Goofy. Fora o álbum…
Caham.
Deixei os links aí caso vocês queiram testemunhar por si mesmos.
Enfim, dia desses eu lembrei que eu tinha esse boneco do Pernalonga de boxeador, baseado num curta. Lembrei porque eu vi o curta Bunny Hugged no HBO Max e pensei “ih alá, curta de wrestling do Pernalonga, será que meu boneco foi baseado nele?”
Aí eu lembrei que wrestling é diferente de boxe. Um deles é de verdade, e não é o que você acha que é.
Enfim, fui ver porque pode ser interessante.
Pra ser justo, teve outros curtas baseados no esporte dos campeões antes. Porky the Wrestler de 1937 e Rabbit Punch de 1941. Bunny Hugged, de fato, é um remake de Rabbit Punch, que na época já tinha 10 anos.
A parte mais estranha é que Porky the Wrestler e Rabbit Punch ambos são bem melhores que Bunny Hugged, com gags visuais mais engraçadas e um ritmo melhor (especialmente no caso de Punch). Tem uma piada em Porky the Wrestler que beira o nonsense dos anos iniciais dos Simpsons, onde uma punchline serve de setup pra próxima punchline.
Temos o campeão que sempre é um cara imenso, ameaçador e com tanto tato social quanto uma hiena fazendo dieta. Porky the Wrestler também tem um, Rabbit Punch tem um, e a única exceção que eu consigo pensar é o Montanha Suja. O adversário dele é Ravishing Ronald, uma paródia de Gorgeous George e Buddy Rogers, este último que serviu de inspiração pra Ric Flair, que tomou inclusive seu apelido. O que explica o público responder à entrada extravagante do wrestler com “WOOO”s.
”De-natured boy”. Fantástico.
Se ele fosse um wrestler de verdade, provavelmente teria uma entrada tão extravagante que eu só conseguiria comparar a Oz, um dos pontos mais baixos da carreira de Kevin Nash. Isso porque Kevin entrava com um mágico como valete, que tinha um macaquinho de mascote.
No caso de Ronald, o seu mascote é o Pernalonga.
Sim, teve um wrestler cuja gimmick era Mágico de Oz, e era uma bagunça do começo ao fim. A falência da MGM trouxe mais malefícios do que se imagina.
Ronald e o Crusher começam a lutar, com resultados… debatíveis.
Tentando salvar seu emprego, Pernalonga banca o Charlie Brown From Outta Town e se reapresenta como um lutador mascarado.
Algo que também tem resultados debatíveis.
A única maneira que ele tem de derrotar seu adversário é da maneira clássica de desenhos animados da época:
Tem outras gags semelhantes que também envolvem disfarces e um cofre, mas o ritmo do desenho é meio zoado. As piadas de pro wrestling ficam absurdas rápido demais, e não tem tantos trocadilhos que poderiam ser feitos, especialmente se tratando de um semi-remake. Que eu lembre, tem um trocadilho específico no final, quando o Pernalonga prende o Crusher na lona com alfinetes e então ele vence.
Get it? Pin!
Ainda assim, é um desenho divertido de ver, especialmente se não esperar muito ou se estiver numa coletânea. Ainda é um curta dirigido pelo Chuck Jones e é muito carismático, a direção de arte é divertida e detalhada, embora os backgrounds sejam MUITO simplórios, mas a animação em si é criativa. Eu só recomendaria que cê visse os outros curtas também, mesmo que Porky the Wrestler seja um tanto lento no começo.