Respostas sem perguntas

Em memória a Hulk Hogan, decidi rever Muppets do Espaço hoje. Não assisti desde que fiz a Hensonspectiva, porque é um dos filmes mais meh da carreira dos personagens, embora eu tenha uma memória afetiva.

Eu vi uma vez quando moleque, porque minha mãe tinha gravado quando passou na Globo, mas a fita acabou quando eles fogem da prisão de aliens ou seja lá o que fosse. Aí eu aluguei em DVD anos depois e finalmente soube como terminava o filme.

Raios, eu comprei o DVD em 2016 ou algo assim, na finada Livraria Cultura, em algum dos dias que eu ainda fazia faculdade de jogos digitais.

Minha desculpa era que eu precisava trocar uma nota de 50. Justificável, mas meu DVD não tinha os bônus que o DVD alugado tinha, como uns erros de gravação que me davam um ligeiro medo.

E foi nesse mesmo DVD nunca antes utilizado que eu vi o filme, com uma qualidade boa, sem buffering, e sem me estressar procurando uma extensão pra forçar o Disney+ a exibir em uma qualidade decente por mais de 5 minutos.

Mas esse filme não tá no Disney+, seja porque os direitos de distribuição estejam com a Sony ou porque o Clifford parece um jamaicano.

Disneyllect

Mas bem, o filme em si é assistível. Tem lá seus momentos nonsense que entram bem no espírito Muppet, sobretudo o que eles faziam na época, que já era algo mais despojado e moderno pros anos 90. Assiste qualquer episódio do Muppet Show e compara com qualquer episódio de Muppets Tonight e vai entender o que quero dizer.

Embora não seja o filme que tenha quebrado os Muppets (essa deshonra vai pra Muppets e o Mágico de Oz, que eu ainda não tive coragem de rever nem pra fazer uma Maravilhosa Resenha de Oz, desde 2014), analisando a proposta do projeto e como o negócio foi executado, dá pra notar várias falhas na parede.

Essa referência faz mais sentido em inglês.

Mas se tem algo que fica óbvio com esse filme, é que ele é um atestado de que existem personagens que você realmente não precisa de respostas. De verdade.

Viúva Negra é uma delas, pelo menos a versão do MCU.

Um dos meus medos quando saíam rumores de um filme solo dela era justamente estragar a mística por trás dela: de onde ela vem, como foi treinada, etc. Deixar isso em aberto é uma porta fácil pra manter a personagem constantemente interessante e inesperada, já que você pode simplesmente jogar uma lore nova em uma linha de diálogo como quem não quer nada, e não vai necessariamente quebrar o mundo estabelecido. De fato, pode ser uma tática dela pra que ninguém saiba o que é real ou não, aumentando o mistério.

Outros personagens, como em sitcoms, precisam disso pra manter uma piada recorrente, como a 99 ou o Chaves, que nunca revelaram seus nomes. Tem um pedacinho de lore de Chaves sobre um amigo do orfanato, o Cente, que eu acho ter sido revelado em algum livro, mas eu sou analfabeto então eu não vou saber com certeza.

E finalmente, Gonzo.

Pra quem tem bom caráter e não tem medo de fantoches, sabe que desde sempre o Gonzo sempre foi um “wathever”, um “tanto faz”, porque ele é um bicho totalmente esquisito. Digo, ok, nos Muppets temos personagens humanóides, mas eles são mais próximos de… sei lá, o Coronel Cintra do que um ser humano.

Existem os whatnots ou anything muppets, que são os “humanos” coloridos, com feições e cabelos intercambiáveis pra serem o que quer que a esquete necessite. Há variações de esculturas, como a Janice e o Lew Zealand, por exemplo.

Também há aliens no Muppet Show, notavelmente os Koozebanians do planeta Koozebane, que é canon em Star Wars.

“Mas só no Legends, né?” Eu não ligo pro que os maconheiros da Disney digam, se tá no Legends é até mais provável de ser canon, não me encha o saco.

Uma vez estabelecido que aliens não são algo fora do normal no universo dos Muppets, tornar o Gonzo apenas um alien é algo… estranho.

A franquia sempre foi conhecida por ser um ponto fora da curva, um senso de humor britânico, por vezes. Tornar algo ordinário em caótico e fazer do caos algum sentido. Eles conseguem navegar entre o humoroso e sentimental com certa facilidade, e não existem muitas franquias que conseguem fazer isso.

Mas vejam só, o roteiro original de Muppets do Espaço era muito mais paródia. Eles implementavam referências de uma pancada de sci-fi, como Alien e MIB, mas a gerência da Jim Henson mudou os planos de última hora e meteu um diretor novo que queria fazer algo mais pé no chão por qualquer motivo.

Isso acabou matando o final original, onde os aliens na real eram fãs do Muppet Show e viam em Gonzo um exemplo máximo de ser vivente. Eles se disfarçavam de “gonzo” e tentavam convencer ele que eram sua família por causa disso, e no final das contas, Gonzo se dava conta que sua família era realmente os Muppets e que ele continuava sendo um wathever.

É um final que meio que chega ao mesmíssimo ponto em que o filme final chega e onde estamos hoje (porque nenhuma produção nova dos Muppets reconhece que Muppets do Espaço existe), mas com um twist que, dramaticamente, faz sentido.

Só que aliens cantando Celebration soa muito mais piegas do que deveria.

Eu não quero nem preciso saber daonde veio o Gonzo ou que espécie ele é. Gonzo é o Gonzo. Toda a gimmick dele é que ele é ousadamente maluco e tem resistência a dor, não precisa inventar uma raça de aliens resistentes a dor com uma cerimônia que envolve atirar um deles de um canhão.

Gonzo é basicamente o Mick Foley com um narigão e mais magro, mas isso não quer dizer que Mick Foley seja um alien. Ele é só um perturbado mental com menos nociceptores que um ser humano comum e que ama entreter os outros com suas stunts que desafiam a vida e a lógica. Igual o Gonzo.

Raios, agora eu quero ver uma lutra entre o Great Gonzo e o Mankind.

Porém, no grande esquema das coisas, acho que pelo menos uma coisa Muppets do Espaço acertou, e talvez fosse a direção que a Jim Henson Co. estivesse tentando seguir.